Diagnóstico

A região de atuação do Programa Crescer possui uma longa vocação econômica para a produção do leite e queijo, fazendo parte da região do queijo do Serro, composta por 11 municípios no total. O queijo Minas artesanal da região do Serro possui Indicação Geográfica (IG) e foi reconhecido como o primeiro patrimônio imaterial do Estado de Minas Gerais.

Estima-se que exista atualmente cerca de 640 produtores de queijo e leite na região. Entretanto, somente uma pequena parcela destes produtores – aproximadamente 20% – possui a regularização necessária da queijaria por meio do cadastro emitido pelo IMA – Instituto Mineiro de Agropecuária.

Apesar do reconhecimento obtido com a IG, boa parte dos produtores da região ainda apresenta um baixo nível de desenvolvimento técnico. De acordo com dados levantados durante o diagnóstico realizado pela Technoserve em 2017, 33% dos produtores ainda têm um nível de adoção de práticas técnicas mediano e 35% nível incipiente. A baixa adoção de técnicas básicas ocasiona também na redução da produtividade dos produtores, que fabricam em média cerca de 6,9 litros de leite por dia. A baixa produtividade também está associada com a baixa renda da maioria deles, estimada em cerca de um a três salários mínimos por mês. Esta grande parcela de produtores com baixa tecnificação apresenta, em geral, uma renda inferior a zero, se considerado os custos da mão de obra familiar.

Um típico produtor local produz menos de 10 queijos por dia, pois possui, em média, um rebanho com menos de 20 animais em lactação e utiliza de mão de obra exclusivamente familiar. O saldo negativo da atividade produtiva reflete no baixo nível de investimentos em tecnologia e na pequena qualificação técnica.

A maior parte da produção é escoada por intermediários ou queijeiros, que normalmente preferem manter a informalidade da negociação. Os queijos em geral são levados para grandes centros urbanos e vendidos informalmente em mercados, padarias e mercearias nas áreas periféricas.

Entretanto, ainda há um crescente e importante mercado formal de queijos maturados ainda pouco explorado pelos produtores locais. Este mercado de empórios finos possui um alto nível de exigência – certificação dos queijos, embalagens, rótulos etc. Esse modelo de negócio vem apresentando um crescimento estimado de 11% ao ano, de acordo com dados do MilkPoint Mercado, com um amplo potencial de aumento em função do baixo consumo per capita de queijo por consumidores brasileiros (consumo de 5 kg/ano no Brasil versus 13 kg/ ano na Argentina). O mercado vem se expandindo gradualmente com a entrada de novos produtores de diversas regiões do Brasil e o aumento do conhecimento do produto pelos consumidores.

Plano de ação

Baseado no diagnóstico da cadeia do queijo, o Programa Crescer propôs a implementação de quatro linhas de trabalho:

a) Associativismo: o incentivo ao associativismo dos produtores é uma importante ferramenta para fortalecer o desenvolvimento do setor em longo prazo. O associativismo ajuda a coordenar os esforços para promover capacitações técnicas, compra conjunta de insumos, certificação de produtores, divulgação da região como um todo, acesso ao mercado, entre outras vantagens. Recentemente, um grupo de produtores de Conceição do Mato Dentro criou a primeira associação de produtores locais, a AMPAQS.

b) Assistência técnica: o aumento de renda dos produtores pode ser obtido por meio da melhoria das técnicas de produção da fazenda. Para se alcançar um nível técnico mais avançado, que resulte em maior eficiência produtiva, o produtor deve aplicar algumas práticas fundamentais na área de alimentação do rebanho, sanidade dos animais, boas práticas de fabricação do queijo, melhoramento genético e gestão de negócios. O alcance da certificação também é um ponto fundamental para que o produtor possa acessar mercados de maior valor agregado e aumentar a renda.

c) Marketing: para acessar os principais canais premium do queijo minas artesanal é fundamental que a imagem do queijo chegue até seus potenciais consumidores por meio de ações de marketing. Este mercado premium valoriza a imagem artesanal do queijo, especialmente a ligação direta com o produtor de agricultura familiar. As atividades de marketing podem incluir desde o apoio para a elaboração de rótulos, para a melhor apresentação dos queijos, até eventos de degustação com formadores de opinião gastronômicos.

d) Comercialização: as atividades de comercialização incluem ações voltadas para o acesso ao mercado pelos produtores rurais, que pode ocorrer por meio da venda a supermercados, mercados, empórios, feiras, loja própria da associação de produtores, eventos de turismo, entre outros. O turismo rural de produção associada também pode ser uma interessante fonte de renda para os produtores, além de apoiar na valorização da cultura local.

Mesa setorial de leite & queijo

Para promover a interação entre as áreas envolvidas foi criada a mesa setorial de leite e queijo no município de Conceição do Mato Dentro. A mesa setorial é um mecanismo de gestão compartilhada em que todas as entidades envolvidas no setor trocam suas experiências e desenvolvem um planejamento conjunto de suas atividades. Essa ação promove a sinergia entre as partes e potencializa os resultados.

Além de contribuir com a harmonização das linhas de trabalho de diversas instituições locais em uma visão comum para o setor, a mesa setorial também contribui para a sustentabilidade e a continuidade da implementação das ações após a finalização do Programa Crescer.

A mesa setorial é formada pela parceria articulada dos principais atores locais do setor de leite e queijo, como, por exemplo, EMATER, IMA, SENAR, Sindicato dos Produtores Rurais, AMPAQS, Cooperativa de Produtores Rurais, Secretaria de Desenvolvimento Rural, entre outros parceiros importantes.

Resultados alcançados

O Programa Crescer, juntamente com a articulação de diversos atores locais, via mesa setorial do queijo, já alcançou importantes resultados para o setor:

  • Adequação de novos produtores para cadastro da queijaria e certificação pelo IMA;
  • Fundação da AMPAQS, Associação Municipal dos Produtores de Queijo Serro de Conceição do Mato Dentro, com cerca de 25 produtores associados;
  • Inauguração da loja da AMPAQS em Conceição do Mato Dentro;
  • Ponto de venda do queijo minas artesanal no calendário de eventos turísticos do município;
  • Introdução do queijo minas artesanal na rota turística do município;
  • Viagem técnica dos produtores de queijo minas artesanal a região da Serra da Canastra e Serro;
  • Articulação de diversos cursos realizados pela EMATER (boas práticas de fabricação do queijo minas artesanal) e SENAR (vaqueiro, higiene na produção de leite, inseminação artificial etc);
  • Instalação do laboratório para realização de exames de brucelose e tuberculose no Posto Agropecuário de Conceição do Mato Dentro;
  • Realização de análises de solo e compra conjunta de calcário;
  • Elaboração e implementação do Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável do Queijo Minas Artesanal em Conceição do Mato Dentro, via mesa setorial.

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